Ano

2019
Todos Alguém Qualquer um Ninguém

A convite de parceria com o Teatro Viriato, e no âmbito dos 20 anos da sua reabertura ao público, a palavra na dança e os acontecimentos marcantes da sociedade e da cultura portuguesa nas ultimas duas décadas surgem como conceitos.


Trabalhar estes elementos torna-se curioso, quando a dança é a arte do movimento por excelência e este a sua unidade fraseológica, sendo a palavra a unidade de uma oração, unindo unidades e trabalhando com as mesmas. 


Se pensar num percurso histórico, a Dança sempre teve o texto como base, depois tentou um distanciamento inicial da palavra, mas a origem de  libretos sempre foi uma explicação e nomeação do movimento, como estas minhas palavras assim o tendem, tentar a validação do movimento pela palavra. Entre várias correntes, abordagens, há o momento em que a dança se apodera da palavra de diversas maneiras, mas a mais interessante é como som que resulta do movimento interno do corpo, extensão do mesmo, tornando-a não explicação mas elemento de cena. Estes dois exemplos colocam movimento e palavra numa relação algo dicotómica e até anacrónica, mas que me leva a pensar que as duas unidades sempre estiveram presentes uma na outra e uma para a outra, no universo da metalinguagem.


Aplicar este meu pensamento aos últimos 20 anos de acontecimentos é procurar palavras nos bailarinos, nas suas expressões e gestualidades, olhar para eles e revisita-los, como elementos de cena, percebendo que resultam, também, da combinação movimento-palavra, sendo a forma como se desenvolvem e surgem a génese deste trabalho coreográfico em que o tempo lento e rápido são combinados.


Antes de serem marcantes, os acontecimento, resultam de movimentos subtis que permitem a sua materialização e que, quando perceptíveis pelo olhar, tomam escala e se apresentam como se rápidos no surgimento. Em verdade foram, na maioria das vezes, lentos, talhados, retalhados e pequenas unidades promotoras de algo maior. Digo na maioria das vezes porque acontecimentos existem espontâneos, em jeito de improvisação, que resulta e que a Dança e o texto também usam como método. Depois de acontecidos são então nomeados pelo público, vincam palavras, por mais presentes que estas tenham estado no seu período de lentidão – ao ganharem a forma ganham o nome.


Se a frase esteve para a dança e o movimento para a palavra, também eles estiveram juntos naqueles que foram os marcos destes anos, onde se movimentaram e nomearam ideias e crenças, onde se fez, dançou e chamou História.


“Parto, partindo para dentro, um bloco de granito que são as ideias brutamente amontoadas. Mas há uma ideia de pensamento que não acaba, uma ação que leva a outra e a outra. Acontecimentos que são reduzidos a um momento que significa tudo.”

Luiz Antunes

Ficha Artística

Direção, Conceção e espaço cénico: Luiz Antunes

Direção Coreográfica: António Cabrita e São Castro

Interpretação: Ana Moreno, Guilherme Leal, Joana Lopes, Małgorzata Suś, Rafael Oliveira e Ricardo Machado

Sonoplastia: São Castro

Música: Harmonielehre: Part III: Meister Eckhardt and Quackie John Adams; Spheres Daniel Hope Desenho de luz: Cristóvão Cunha em colaboração com os autores

Figurinos: César Lopes

Elemento cénico fotográfico: Margarida Dias

Fotografia de cena: @Raquel Balsa

Agradecimentos: Allan Falieri, Álvaro Campo, Luís Sá Nogueira e Pedro Prazeres

Produção CPR: Viseu/ Companhia Paulo Ribeiro

Coprodução: Teatro Viriato

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