Ano
“Daquilo que está por baixo
Até ao que fica no alto
Vão dois carris de metal
Na calçada de basalto”
Desde o começo da história, procuramos alcançar a glória. Foi com a consciência da passagem inexorável do tempo e com a capacidade de registar os seus próprios feitos que nasceu a aspiração universal pela sagração da existência dos povos e de cada homem. Primeiro cantámos as guerras travadas entre tribos e cidades; depois anunciámos a glória de um deus feito homem que nos ofereceu a vida eterna; a seguir cruzámos os mares em busca de mais mundo para conquistar; e acabámos a celebrar o génio humano, abandonando deuses e musas, elevando as artes e as indústrias ao seu máximo esplendor.
Hoje, tudo é diferente. A glória já não se procura salvando a nado uma epopeia, nem pondo cerco a uma cidade ou conquistando um império. Tornou-se objecto de promessas fáceis, anunciada aos nove ventos. Queremos todos agarrá-la em cada esquina, queremos tomar o elevador que nos leva em dois minutos “desde este lugar sem história / até um lugar na história”. Perdemos o sentido da glória e confundimo-lo com a fama e o estrelato, sem compreender que não é fixando carris de metal no duro basalto que conseguiremos alcançar a glória e perdurar, agora e sempre, pelos séculos dos séculos.
Destronámos Deus das alturas, mas ficámos presos a uma existência banal. Chegou o tempo de erguer o nosso olhar e arrancar os carris que nos prendem neste vaivém de lata, carrossel da nossa finitude. Mas o caminho para a verdadeira glória não é para todos, por isso há que jogar com coragem: as regras foram apagadas pelo tempo, os peões perderam-se no sótão, o tabuleiro está amarelecido e nós esquecemos o caminho! Queremos fazer as nossas regras, desenhar a traço livre o caminho, conquistar o nosso lugar no tabuleiro.
“Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C’uma aura popular, que honra se chama!”
Formato
Cada artista dispõe de oito minutos de apresentação para interpretar o conceito de cada edição de -mente num formato à sua escolha, sujeito apenas às condições do espaço, fazendo deste projeto um mostruário de pluralidade criativa repleto de objetos artísticos multifacetados.
Objectivo
Construir um objecto criativo inspirado pelo conceito de glória e por um conjunto de ideias como: ascensão, conquista, sacralização, passado, jogo, caminho e imortalidade. A glória de cada um é fruto da sua visão do mundo e da consciência da própria mortalidade; a reflexão em torno da glorificação pretende questionar o caminho de cada um em direção a essa afirmação artística individual.
Ficha Artística
Concepção: Luís Ferreira e Luiz Antunes
Direção Artística: Luiz Antunes
Produção: Luís Ferreira e Miguel Martinho
Artistas Convidados: Tânia Carvalho, Elisabete Francisca & Antónia Buresi & António MV, Inês Nogueira, João Costa Espinho, Maria Duarte & Ramiro Guerreiro, Vasco Araújo e Lara Li
Apresentação: Maria Bakker
Live Act e DJ Set: D.M.A (disco my ass)
Design gráfico: -mente
Fotografia: @Helena Colaço Salazar
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2024 Heurtebise