Há quem ainda considere o travestismo uma parafilia. É o sintoma mais claro de que esta arte (já que é certamente uma manifestação humana de ordem estética) ou este parafenómeno artístico, que tanto tem influenciado renomados criadores, é ainda um símbolo social de rebelião e provocação. É verdade que esta designação é móvel e flutuante e nos dias que vivemos, mais do que uma ideia transgressora (não será neste momento todo o mainstream essencialmente "trans" no seu sentido mais lato?), o travestismo é um maná de inspiração.

Não só pela sua historiografia e pelo percurso extraordinário de alguns dos seus protagonistas mas também pela especificidade dos seus códigos, que se foram fazendo de proibições e perseguições, criando uma gramática underground  (muitas vezes literal, do foro da linguística). O paralelismo com todos os movimentos artísticos surgidos da transgressão e da experimentação é evidente e será esse o grande factor de atracção entre ambos os universos. No fundo um é émulo do outro, um é espelho (ou bola de espelhos) do outro, um bebe e come do outro... e esta cadeia alimentar não pára por aqui... 

Formato

Cada artista dispõe de oito minutos de apresentação onde pode abordar este universo num formato livre, ao seu critério, sujeito às instalações disponíveis e contingências do espaço, fazendo desta noite uma demonstração da pluralidade criativa e de objetos artísticos carregados dos reflexos de uma bola de espelhos.

Objectivo

Dar testemunho partindo para o acto criativo tendo as ideias e conceitos de: equívoco, imprecisão,  ambiguidade, feminino, masculino, androginia, mistério, perversão, subversão, artificialidade, censura e proibição, imagens de rebelião e de provocação. Ver o travestismo como um conceito ainda móvel e flutuante, cujas origens são diversas e complexas, questiona a nossa identidade e abre cada vez mais espaço à criação.

Artistas, numa noite única, trabalham em torno deste mote.