“O que vai ser realmente interessante é ver como se escreve uma história disso; os traços que foram, ou que são, na maior parte, apagados. É um problema muito interessante para uma historiadora. Como ler os traços daquilo que chega a ser falado. Não acho que seja impossível de fazer, mas acho que é um problema realmente interessante: como escrever a história daquilo que não deveria ter sido possível.”
Judith Butler
No âmbito da efeméride dos 25 anos do lançamento do livro Gender Trouble o Teatro Maria Matos apresenta um ciclo de programação sobre o tema “género”, integrado na rede internacional House of Fire. Judith Butler, escritora, investigadora e filósofa pós-estruturalista, revoluciona as questões teóricas filosóficas, políticas e éticas dos Estudos de Género, feminismo contemporâneo, teoria queer e Estudos Performativos introduzindo o conceito gender performativity.
O género é uma performance, então somos construtores de personagens. De onde surgem? Ás vezes saem de armários ou estão em tumblrs e mudam pela internet. Quem são? O senhor do café em frente é um género que por acaso satisfaz alguns.
Bulldozers e Bobs empreiteiros questionam a própria cena performática...a cena é real ou mesmo ela é fruto de um constructo? Essa construção consolida uma identidade, reconstrói e transforma. Não tem corpo mas resulta de todos os corpos. É um estado mental que se traduz em atitudes, farrapos, vícios e lutas. É consciente ou dominada por pulsões de prazer. É construtivista, estruturalista, essencialista, impressionista, neo-modernista. Nasceu e ficou sempre igual até morrer ou disfarçou, duvidou, recalcou e mutou.
Gender bender e gender performativity abrem o leque para além das premissas do machismo, do feminismo, do “gayminismo” e do anti-dogmático e aludem à criação do objecto artístico. Sabendo como se entortava o género em 1990 tenta-se adivinhar como se vergará em 2020.
Defender o que é construído é acreditar nas inúmeras possibilidades do acto criativo. Tudo é proposto à criação, à imaginação que atribui outro fôlego e reinterpreta os teoremas dos livros.
Se Butler defende um corpo sexual genérico capaz de assumir várias identidades então assumamos o século XXI na pele de neo “butlerianos”. Deixemos os formalismos, aceitemos a subversão e foquemo-nos apenas na construção.
Formato
Cada artista dispõe de oito minutos de apresentação para interpretar o conceito de cada edição do –mente num formato à sua escolha, sujeito apenas às condições do espaço, fazendo deste projeto um mostruário de pluralidade criativa, repleto de objetos artísticos multifacetados.
Objectivo
Construir um objecto criativo inspirado na obra da escritora, investigadora e filósofa Judith Butler e no conceito “gender bender”. Esta edição do –mente propõe a cada artista convidado que crie um objecto artístico cujo ponto de partida seja o livro Gender Trouble de Judith Butler, universo ideológico de Butler e as diferentes declinações do conceito “gender performativity”.
Ficha Artística
Concepção: Luiz Antunes, Luís Sá Nogueira
Direção Artística: Luiz Antunes
Produção: Luís Sá Nogueira e João Guimarães para Heurtebise
Artistas Convidados: Catarina Vieira & Rita Cruz, Filipe Canha & António MV, Filipe Viegas, Aurora Pinho, Flávio Rodrigues & André Santos, Joana Barrios, Miguel Moreira & Isabel Galriça, Simone de Oliveira e Nuno Feist, Ana Borralho & João Galante (Sexy MF – Guest Act)
Apresentação: Deborah Kristal
DJ set: Yen Sung, Black Madonna
Design: Francisco Elias
Fotografia: @Bruno Simão & @Rodrigo Tiago
Vídeos: Otherfeatures
Gender Trouble é um projecto House on Fire apoiado pelo Programa Cultura da União Europeia e um convite do Teatro Maria Matos para integrar o ciclo de programação Gender Trouble.
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2024 Heurtebise